Manejando a Palavra da Verdade
Todo cristão deveria empenhar-se no estudo sincero das Escrituras e gastar muito tempo com isso, pois de outra forma será enganado pela forte sedução espiritual que opera em nossos dias.
A Revelação progressiva das Escrituras é perfeita e harmoniosa, uma mente sabia e soberana estava no controle da sua ordem: o Espírito Santo
G. H. Lang em um de seus livros ensinou uma verdade preciosa: “Uma visão errada de uma verdade da Escritura afetará outra verdade, e em um sistema que tenha uma relação de partes conectadas, o desempenho ou desarranjo de uma, prejudicará todas as demais”
Nesse pequeno estudo bíblico, irei fazer uma abordagem curta e simples, acerca de alguns princípios que irão nortear o estudo das Escrituras, não se trata de um tratado complexo de hermenêutica, apenas alguns princípios que ajudarão o estudante a evitar os erros mais comuns quando tem de o texto sagrado com o intuito de extrair dele o sentido correto, compreender a mente do Espírito e a vontade de Deus.
Implícito e explicito
Há textos nas Escrituras que são claros, eles são explícitos, que Jesus é o único caminho para o céu esta apresentado de modo explicito em João 14:6. Quando desejamos saber se o Espírito Santo é uma pessoa? Na maioria das vezes ocorre de modo implícito, em João 16:13 é usado um pronome pessoal para o consolador. Quando não há qualquer evidencia de arrancar um sentido claro, implícito ou explicito do texto, pode ocorrer uma eisege, o que define como colocar uma idéia preconcebida no texto. Um exemplo bem claro é a passagem em Mateus 16 em que Cristo diz que as portas do inferno não prevalecerão contra a Sua igreja, de modo algum o texto afirma a segurança, mas sim a autoridade que ela tem contra as portas do inferno, o texto, portanto declara que quando a igreja ataca as portas do inferno, essas portas não resistirão.
Em Romanos 3:23 temos outro exemplo de declaração explicita, todos pecaram e carecem da gloria de Deus. Esta claro nesta declaração que a humanidade entrou no nível baixo da queda provocado por Adão, se não fosse assim, todos nós não nasceríamos fora do Paraíso, o local de desterro de nossos primeiros pais. Todos participaram desse naufrágio espiritual, e é por isso, que de modo implícito dentro de todo o Novo Testamento encontramos idéias acerca da obra consumada e perfeita de Cristo na cruz relacionadas a um compra de um escravo (do pecado) do mercado do mundo, a libertação da escravidão do espírito dessa era como vimos em Efesios 2:1 e 2. Devemos tomar muito cuidado pois o diabo ao fazer uso da palavra de Deus, introduziu idéias próprias no texto, leia com atenção todo o capitulo 2 e 3 de Genesis e Mateus 4:1 a 8 e Lucas 4:1 a 11 e note que o uso da Palavra de Deus de forma distorcida, adulterando o sentido, introduzindo uma idéia que não está no texto, corrompeu o sentido dela. Não podemos usar a técnica do diabo, mas devemos rejeitar esse tipo de manipulação maligna das Escrituras.
Descrição ou Prescrição
Prescrição é uma ordem, um mandamento, quando Jesus disse: Vinde a mim em Mateus 11:23 temos uma prescrição, da mesma forma quando ele ordenou que fôssemos pregar o evangelho a toda a criatura, é uma prescrição. É ordem, é mandamento! Da mesma forma quando lemos que ele ordena a batizar em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo, temos uma prescrição, uma ordem. Quando encontramos em Atos, que os discípulos estavam batizando em nome de Jesus, não temos uma formula, não temos uma prescrição, mas uma descrição. Perceber a diferença entre os dois, evita erros extremos e grosseiros e o mais importante, nos permite ter cautela no estudo e evitar heresias. Outros exemplos, em João 9 vimos Cristo fazendo lodo e colocando no olho de um cego para cura-lo, isso é uma descrição. Não significa que cada devemos untar com lama os olhos de todos os cegos que desejamos curar! Em Atos 5:15 a sombra de Pedro está curando alguns, mas é uma descrição não uma prescrição, nunca devemos usar o texto como uma prova de que podemos curar usando a nossa sombra. Anos atrás vi um defensor de curandeirismo evangélico apelando para um texto de prova de que pessoas podem cair depois de uma oração e receber uma cirurgia espiritual (Feita por anjos ou pelo Espírito Santo, por Deus ou por Cristo) o texto que ele usou foi uma descrição de Gênesis onde Deus induziu Adão a um sono profundo e depois tirou um osso da costela para criar Eva. Veja que recorrer a uma descrição para tentar provar uma pratica que vai se transformar em doutrina herética e pratica paranormal não é bíblica, mesmo citando ela, pois citar as Escrituras sem respeitar um método hermenêutico correto recorrerá nas mais hediondas heresias, e isso ocorrem muito hoje em dia por causa da incapacidade de fazer manejo correto da Palavra de Deus.
Texto e Contexto
É claro que o contexto é importantíssimo, senão fundamental para o entendimento das Escrituras, mesmo um livro complexo e cheio de símbolos como Apocalipse pode ser lido com mais facilidade quando prestamos atenção ao contexto, por exemplo no Apocalipse 1, vimos que a igreja é simbolizada por um castiçal, o contexto explica o texto. Um contexto próximo e um contexto distante, o contexto próximo, o próprio Jesus explica no próprio capitulo 1 que os castiçais representam igrejas, num contexto distante, o livro de Daniel e Zacarias podem facilitar o estudo de Apocalipse pois são contextos distantes. Outro exemplo é o livro de Hebreus, há um contexto histórico em que o livro foi escrito, a apostasia de alguns judeus convertidos ao evangelho, mas o contexto distante é o livro de Levítico. Atentar para o contexto com calma e paciência e não isolar um versículo dos demais é crucial no estudo das Escrituras, esse erro também é muito comum onde o estudante ou pregador não tem as preparações básicas para o uso das Escrituras.
Versões Da bíblia
O autor desse estudo defende o uso da ACF (Almeida Corrigida e Fiel) da Sociedade Biblica Trinitariana, mas não dispensa o uso de outras versões para comparações, mas sempre usando a ACF no vernáculo e no uso continuo e autoridade final quando encontra divergências. Mas uma boa tradução (Considerando a ACF como a melhor na língua portuguesa) deve ser um caminho seguro para a exposição e para o conhecimento das verdades fundamentais da fé cristã.
Ferramentas
Um bom dicionário bíblico também ajudará o estudante a desenvolver um conhecimento mais avançado, dicionários mais completos e livros que tratam da cultura, contexto, línguas grega, aramaica e hebraica, bons comentários exegéticos sobre os livros do Antigo e Novo testamento também são de suma importância se o cristão deseja crescer na graça e no conhecimento.
Para finalizar, apresento a prescrição, objetiva e explicita da ordem de Pedro em I Pedro 4:11:
Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus.
Autor C. J. Jacinto