A ARTE DE TRANSFORMAR AS
AMARGURAS DA VIDA EM DOÇURA ESPIRITUAL
“Porque grande amargura tem me
dado o Senhor” (Rute 1:20)
Às Vezes precisamos clamar;
“estive em grande amargura, tu porem amorosamente abraçaste a minha
alma”(Isaias 38:17) Homens amados por Deus sofrem dores e amarguras. A carne de Estevão rasgou-se perante Seus algozes.
Homens piedosos como João Batista, padeceram a morte prematura de forma
horrível. Paulo ouviu do Senhor a
realidade da fé cristã “Te mostrarei o quanto deves padecer pelo meu nome”(Atos
9:16). Já sofri bastante na vida, o choro e a dor é algo constante no ser
humano, e o cristão não está fora dessa realidade. A historia do homem é uma
historia de sofrimentos, o drama da redenção também é. A dor é um mistério, uma
escola e uma bigorna, onde a alma piedosa recebe os golpes para tornar-se mais
preparada para a eternidade. É a dor que nos torna humano, esse é um fato que faz com que os seres criados fiquem
subordinados a realidade do pecado. A
dor portanto, pode ser aliviada quando compartilhada. Quando levamos as cargas
uns dos outros e quando choramos com os que choram, então seremos mais humanos
e teremos mais forças para suportar nossos próprios lamentos. É na assistência
ao sofrimento alheio que podemos oferecer um pouco de orvalho de consolação,
para que as rosas do amor possam se sobressair acima dos espinhos que são
permanentes. Viktor Frankl afirmou “O homem que se levanta acima de sua dor,
para ajudar o seu semelhante, transcende ao humano”. Frankl foi testemunha dos
horrores dos campos de extermínios dos nazistas durante a segunda guerra
mundial. Frankl viu pessoas emergirem do mais intenso sofrimento, almas
lapidadas pela dor violenta, transpondo os mais terríveis obstáculos e saindo
de situações que pareciam impossíveis.
Tias mostraram ao mundo pós guerra que o heroísmo se alcança na
resistência ao sofrimento através de um motivo que os leve a crer que a vida
vale a pena.
O sofrimento é um enigma, parece que existe
para ser sentido e não explicado, os filósofos divergem acerca do entendimento
sobre este assunto, os teólogos não conseguem colocar um ponto final sobre a
questão. Sabemos que o ápice da questão da dor humana, se encontra no Calvário
e mais precisamente se encontrou em Cristo. Nem mesmo o drama da redenção
escapou das garras da dor. Creio definitivamente que não se pode ter uma margem
de entendimento real fora da cruz, a encarnação de Cristo, o Deus que se fez
homem, sua morte na cruz e sua posterior ressurreição é a luz mais intensa que
brilha encima da obscuridade da dor humana. Cristo é despedaçado emocionalmente
pela dor da cruz. Seu rosto se rasga fisicamente nela, mas desse desespero vem
a redenção, o fim do sofrimento humano começa com o sofrimento do Filho de
Deus. Na violência contra a bondade do Messias, na desumanização da vergonha da
cruz, ali na agonia do Calvário, o tempo torna-se o cálice onde a amarga dor de
Cristo produz a doçura do perdão que vem pela graça de Deus. Isso é um tanto
escandaloso para a filosofia que perdura sorvendo o cálice do hedonismo, isso é
uma afronta para uma religião que se sustenta dos méritos humanos, isso é um
insulto para a lógica viciada no orgulho, é inexplicável aos intelectuais
presos na mecânica de uma vida fechada dentro de um universo fatalista. A cruz brutal,
violenta e profana, prende o Filho de Deus e consome a vitalidade do Cordeiro,
e como a semente que na tumba da terra rasgada pelo arado, entrega as forças da
germinação, para que da morte possa surgir a vida possante, como de uma pequena
semente que reduzida num jazigo, recebendo o orvalho que é derramado do cálice
da noite, faz eclodir um carvalho que cresce em vigor e avança como se quisesse
encontrar-se com as estrelas. Assim, Cristo morre, para dar a sua vida em
resgate de muitos. Na horrenda cruz, no Calvário tenebroso, morreu o Filho de Deus, e quando encerra as
comportas do sofrimento, em gemidos e num brado “está consumado!” abre os portais
da mais bela primavera espiritual, aquela em que desabrocham todas as flores da
misericórdia divina. Por isso, da dor humana Cristo dá aos homens a salvação
divina. Esse é o caminho transcendental da dor. E na eternidade, os redimidos
entenderão o papel do sofrimento na sua totalidade. Um certo teólogo certa vez
escreveu “Seja que preço for, é preciso que Deus fique satisfeito” essa é a
alma do sacrifício de Cristo na cruz.
Porque a justiça divina ficou satisfeita com a obra vicária de Cristo na
cruz.
Pela cruz, na intensa amargura,
Cristo nos dá a doçura da graça divina, e por ela vem o perdão dos nossos
pecados. Aqui está o poder de Deus em ação, pela bendita misericórdia, Deus
toma o sofrimento vicário de Seu Filho, e então aceita como substituição. O
Santo morrendo pelos pecadores. Isso é radical, Deus em Cristo reconciliando
homens pecadores, e a benção da salvação vem através das dores mais intensas
que Cristo teve que suportar por nós na cruz. Mas ainda nos deparamos com ações
de homens que por Cristo suportam a dor e pelo evangelho resistem com paciência
ás aflições que muitas das vezes assolam o coração humano. Com Cristo,
aprendemos a transcender a dor e fazer com que brote o mel da esperança ao
invés das lagrimas da rebelião contra nós mesmos e contra Deus. Ficar no caminho da sensatez, na hora em que
as aflições nos remetem o desespero é um modo simples de viver em sabedoria,
quando as circunstancias nos convida a vivermos a loucura, mas a insensatez não
convém aos santos. Acho que foi Corrie Teen Boom quem disse: “olhe ao seu redor
e verás as aflições, olhe para dentro de si e
ficarás deprimido, olhe para Cristo e encontras descanso”. Temos um
refugio, Cristo está conosco no caminho da aflição. Há uma fonte de consolo em
Jesus Cristo o Senhor, mesmo nas dificuldades mais intensas, quando os espinhos
das aflições perfuram a nossa alma, encontramos no Senhor uma plenitude de
descanso, pois Ele é nosso refugio.
As vezes encontramos as flores
desabrochando nos lugares mais extremos como no cume dos montes, outras vezes
encontramos os lírios desabrochando nos pântanos. Muitas vezes, quando feridas,
as flores não choram, mas liberam perfumes. Tal é a nossa posição em Cristo,
como a cruz, na dor violenta, foi liberado o refrigério da reconciliação, a
condenação de Cristo nos deu a justificação. Isso foi possível porque a dor de
Cristo é a causa de todas as nossas bênçãos, pelas suas pisaduras fomos
sarados, pela sua morte nos deu a vida, pelo seu desespero a nossa redenção foi
consumada, do sofrimento do Senhor, brotou a doçura da regeneração, de um juízo
tão amargo, Cristo nos dá a paz. Noemi
passou por esse dilema da dor, perdeu seu amado esposo, seus filhos, volta para
seu povo carregando um fardo de amarguras, e ela desabafa “Grande amargura tem
me dado o Todo Poderoso”, mas por trás daquele cenário de noite escura,
despontava o sol da justiça. A estrada de lagrimas de Noemi era a estrada da
redenção. Na sua noite, as farpas dilaceravam o coração, todavia o alvorecer
trazia a redenção. Diz certo hino que “os mais belos hinos e poesias foram escritos
em tribulação”. Deus permite que a terra da alma seja arada pelas laminas do sofrimento,
para produzir os mais sublimes testemunhos de Sua misericórdia. Muitas vezes
tudo parece desaba a nossa volta. A dor
chega como uma espada afiada. Mas o sofrimento é uma janela pelo qual
enxergamos a essência do mundo sem Deus. E quem resiste ao sofrimento por amor
a Deus sai transformado para compreender realidades ainda maiores. Cristo
ensinou “No mundo tereis aflições” (João 16:33). Mas a semente da fé deve ser
jogada nos sulcos abertos pela dor, elas devem ser regadas constantemente por
nossas orações. Na dor que suportamos e
na dor que devemos ajudar outros suportarem, colocaremos a humanidade mais
perto de Cristo, assim como Ele esteve mais perto dos homens quando se tornou
um homem de dores. Disse o sábio Salomão que para a alma faminta o amargo é
doce, isso se dá pela compreensão da providencia divina. Em meio as
turbulências da vida, Jó adorou e Paulo e Silas cantaram. Há um caminho mais
elevado, o caminho da confiança em Deus, e ainda que a noite se prolongue sobre
nossa vida, ainda que tudo pareça tão escuro a nossa volta, a aurora da
consumação de todas as coisas resplandecerá. O fulgor da glória de Deus
iluminará a nossa face, PIS se com Ele padecemos, com Ele também reinaremos.
Homens de pequena fé temem a tempestade
(Mateus 8:26) todavia o Senhor diz “Tem bom animo”(Mateus 9:2 e 22). A questão da dor pode ser complexa, o
sofrimento pode ser um mistério de difícil compreensão quando ela está
relacionada com a fé cristã. Os teólogos têm lutado intelectualmente para
tentar provar que existe compatibilidade entre o sofrimento e a bondade de
Deus. Acho que é pela doutrina da cruz que entendemos a mensagem do sofrimento.
Quando Deus quis dar uma resposta a dor humana, ela envia seu Filho para morrer
por nós. A redenção e a justiça de Deus
são fatos conectados ao sacrifício vicário da cruz de Cristo. Quando nosso
coração está mais intimo de Cristo e quando compreendemos mais profundamente a
mensagem da cruz e a obra da cruz, mais teremos forças para suportamos as
tempestades da vida. Não há como encarar a dor do homem com uma teologia coerente
sem estudar e entender a profundidade da obra da cruz. Nossa sociedade e a
igreja contemporânea estão alheia ao entendimento da dor porque ela também está
alheia ao entendimento da doutrina da cruz de Cristo. A mensagem da cruz é o
começo para o longo trajeto da compreensão da fé cristã e as aflições que
acompanham os seguidores de Cristo até a consumação de todas as coisas. Quanto mais um homem ama os prazeres da vida
mais sofre, quanto mais ama a Cristo mais suporta o sofrimento. A pequena fé traz temor as coisas passageiras
e nos torna indiferente a felicidade eterna, uma grande fé nos capacita a confrontar
as dores do mundo presente por convicções de que há em Cristo, um mundo
vindouro melhor. É através dessa visão madura da fé cristã, que as dores e as
aflições lapidam a glória do salvo, isso é transformar a amargura presente em
doçuras celestiais. Há para o homem piedoso um manancial de consolações em
Cristo, assim como um tesouro de lições espirituais na encarnação do Verbo e
nas dores que suportou, quando ali na cruz padeceu as dores mais extremas,
suportou a mais infame de todas as vergonhas, ali mesmo Cristo nos deu também o
real valor das aflições, porque através delas, veio a realidade da expiação
vicaria. Quanto mais estudamos a mensagem da cruz, maus aceitaremos as aflições
da vida, como uma lição que nos torna mais espirituais. Amem (Clavio J. Jacinto)
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