Espiritualidade e emoções
Todos conhecemos a passagem do evangelho de
João, onde descreve que Jesus chorou (João 11:35). Chorar [e uma viagem da dor
por nossas emoções. Existe algum paralelo entre uma espiritualidade verdadeira
e emoções saudáveis? Há disputas por causa das polemicas que envolvem certos
cultos pentecostais e neopentecostais, devido ao fato de existir tantas
bizarrices e coisas estranhas, bem como comportamentos emotivos incoerentes
dentro da cristandade, alguns conservadores cessacionistas acabaram por
combater com tenacidade o papel emocional da verdadeira espiritualidade. Assim
vimos como em ambos os lados: cessacionistas e não cessacionistas,
desenvolveu-se ponto de vistas que não tem respaldo nas escrituras.
Em primeiro lugar, a emoção é uma
característica que Deus criou no homem, quando ela está em equilíbrio, é boa e
benéfica. Nada de errado com emoções saudáveis. Se alegrar, celebrar, adorar,
nos leva para o mundo dos nossos sentimentos. Não somos robôs biológicos, por
isso mesmo, lendo a bíblia com atenção vimos como as emoções estavam equilibradas
com espiritualidade de muitos filhos de Deus. Um exemplo claro pode ser visto
no ministério do profeta Jeremias , o profeta chorão ou Davi que dançou num
momento de alegria, como vimos em II Samuel 6:14. Mas isso nuca deve servir de
base, para abusos e êxtases descontrolados. Toda a emoção deve estar sob o
controle da nossa prudência, da coerência e acima de tudo, controlada pelo Espírito
Santo.
Em segundo lugar: Jesus mesmo
ensinou que os que choram são bem aventurados, e promete que os tais serão
consolados (Mateus 5:4) Chorar só é
possível, se nossas emoções estiverem ativas. Significa que existe
sensibilidade, e as emoções estão vivas dentro de nosso coração. Jesus nunca
nos chamou pra viver uma espiritualidade seca. Nos convoca ao choro, ao
ministério das lágrimas, isso é vivenciar um mundo de emoções profundas. Chorar por tantas pessoas que ofendem a Deus, por tantas injustiças no
mundo, por tantas desgraças, Paulo nos convida a chorar com os que choram. Quem
expressa suas emoções mostra que tem equilíbrio espiritual. As emoções extrovertidas
apenas revelam que a pessoa tem desequilíbrio, quando isso corrompe a vida
devocional, então isso apenas revela, que as emoções dessa pessoa está em
desequilíbrio, é uma espiritualidade doentia. Ai é outra questão. Mas a bíblia
nunca ensina, que não devemos usar nossas emoções, na adoração, no culto ou no
louvor. Elas devem ser usadas de modo coerente, com equilíbrio e sabedoria.
Em terceiro lugar, Em Samuel 1
temos o exemplo e Ana, que chorou amarguradamente diante do Senhor. Aqui vimos
como as emoções sadias contribuem para uma oração eficaz. O choro amargurado de
Ana por ser estéril, foi um eco do seu coração ferido, e ela não escondeu isso
do Senhor. Nem mesmo Eli aprovou, ou pelo menos desconfiou daquela atitude de
emoções profundas de dores latentes no coração de Ana, pensou que ela estava
embriagada. A emoção de Ana estava ali naquele clamor, uma emoção acesa,
visível e verdadeira.
Em terceiro lugar, Jesus descreve
em João 16;20 que a vida, o mundo e os salvos estão inserido em um mundo de
emoções. O mundo se alegra, os cristãos se entristecem, e enfim, todos estamos
dentro do universo das emoções, e parece que essas emoções não se findam com o
fim da vida terrena. Uma vez que podemos perceber nas expressões do rico que
estava no hades, na parábola do rico e do Lazaro (Lucas 16). Mais uma vez
insisto, que nossas emoções não devem ser ficar fora de controle, e em hipotese
alguma podem ficar fora do controle do Espirito Santo.
Em quarto lugar, as emoções devem
estar condicionadas a nossa fé (Hebreus 11:1 e 2) assim como toda experiência
espiritual deve estar completamente condicionada as escrituras. E é aqui que
entra o equilíbrio e o bom senso. A emoção não é a base que sustenta a fé, é a
fé que sustenta os alicerces de nossas emoções. Quando a ordem é essa. Não há
pecado ou erro algum em manifestar as emoções nas reuniões ou nos cultos.
Em quinto lugar. Pode um cristão
perder seu controle emocional em uma experiência cristã? Talvez, se ele perde o
foco, também pode perder o equilíbrio. Pedro em Lucas 9:33 acabou saindo fora
de si, no momento em que ocorria a transfiguração de Cristo. Ele simplesmente
perdeu o sentido das coisas e falou coisas sem sentidos. Esse é um exemplo
clássico, emoções fora de controle, nos levam para condutas incoerentes
Em sexto lugar A bíblia admoesta
claramente a sermos alegres. O regozijo faz parte da verdadeira
espiritualidade, lemos isso em passagens como Filipenses 4:4, I Tessalonicenses
5:16 e Romanos 12;12. A alegria é o fruto de uma vida de gratidão. Então, se
alegrar em um culto de forma coerente, não é errado. Na verdade, o cristão tem
motivos suficientes para viver transbordando de alegria, mesmo em momentos
difíceis, somos aconselhados pelas escrituras, a dar graças a Deus.
Em sétimo lugar, a bíblia também
nos admoesta que nosso culto seja racional (Romanos 12:1 e 2) o problema é que
muitos erram, pensando que o racional é o oposto ao emocional. Que o culto seja
racional, ou seja coerente, equilibrado e espiritual, não há duvida! Porém,
isso não significa que devemos deixar a emoção e usar só a razão. Porque o
texto de Romanos não ensina isso: que as nossas emoções devam ser banidas do
culto. Ora, a emoção deve ocupar seu lugar, sem ferir o culto racional. Assim
ao invés de ser uma interferência, a emoção será uma benção.
Oitavo lugar. E os chamados
cultos eufóricos, tipo cai cai, ou de êxtases e arrebatamentos e os chamados
cultos “re te té”? Essas descargas
emocionais desequilibradas nada tem a ver com o culto racional, ou o adorar em
espírito e verdade. Essas manifestações muitas vezes é a soma de êxtase,
misticismo, transe e emoção. Uma salada de misticismo doentio, e está distante
do culto espiritual. Creio que o
Espírito Santo por ser Santo no sentido mais literal da palavra, não nos conduz
para atitudes e incoerentes ou nos induz a comportamentos bizarros. Ele, o Espírito Santo é o consolador, isso
significa que sua missão é consolar, e não confundir. Tudo o que trás confusão
e desordem, não procede do Espírito Santo. Sua missão é colocar em ordem as
coisas, e não para promover desordem e confusão. No principio, no livro de
Genesis, o Espírito Santo está pairando sobre uma terra caótica, e a ordem vem
através de sua ação. Por isso mesmo, entendo que a missão do Consolador na
igreja é trazer edificação, consolação e unidade.
Emoções saudáveis, contribuem
para um culto espiritual, e por ser parte integral do homem, as emoções foram
criadas por Deus, e quando elas estão em equilíbrio, resplandece a luz do
verdadeiro homem espiritual.
Clavio Juvenal Jacinto
Igreja Evangelica Caminho da Paz
Paulo Lopes SC
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