Porque o que fala em língua
desconhecida não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em
espírito fala mistérios (I Corintios 14:2)
Falar em mistério significa falar
um idioma enigmático e desconexo? Significa falar em um idioma indecifrável? Ou
de forma a expressar uma linguagem sobrenatural de origem celestial?
Em primeiro lugar, a palavra
mistério aqui, não denota o sentido comum como entendemos a Palavra mistério
hoje. No contexto do Novo Testamento e principalmente das epistolas de Paulo a
palavra grega “musterion” era algo conhecido aos iniciados. Segundo Vine, em
seu dicionário exegético das Palavras do Novo Testamento (CPAD) significa algo
que estando fora do seu âmbito da apreensão natural sem auxilio, só pode ser
conhecido pela revelação divina e é conhecido no modo e no tempo designados por
Deus. No sentido comum, mistério implica conhecimento retido, seu sentido
bíblico é verdade revelada”(Pagina 795). O texto bíblico citado tem um sentido
original de apresentar que o mistério está fora do escopo da compreensão do
ouvinte, porque não havia interpretes. Ora, nesse caso o entendimento fica sem
fruto (I Coríntios 14:14). Mas pregar um “mistério” revelado nos propósitos de
Deus, em uma língua desconhecida, não significa falar em uma língua celestial. “Cristo é o mistério da
piedade que foi manifesto” (I Timoteo 3:16)Não há um único versículo nas
escrituras que prove a existência de idiomas celestiais. Pelo contrario, todas
as vezes que Deus ou os anjos falaram, o uso da linguagem é idioma terreno.
Tanto por ocasião do batismo como na ocasião da transfiguração, a linguagem
divina “Este é o meu Filho Amado, a quem me comprazo (Mateus 3:17 e 17:5) a voz
celestial está na linguagem vernacular, ou seja da terra. Em Daniel 7:25, a escrita
na parede, embora seja de origem sobrenatural, “Mene mene tequel Ufarsim” era um idioma conhecido que Daniel conhecia,
e tudo indica que as letras eram caracteres hebraicos mais primitivos,(aramaico)
e por isso Daniel não viu dificuldades em Lê-los. Da mesma forma, Deus entrega
os dez mandamentos escritos pessoalmente por Ele, escreveu com seus próprios
dedos, usou uma linguagem comum ao povo,
ou seja o hebraico(Êxodo 31:18)
precisamos entender isso, esses são exemplos bíblicos de idiomas que Deus usou
para se comunicar com os homens. Biblicamente falando, e permitindo que ela
seja nossa autoridade final, não há como provar que exista uma linguagem ou
idioma “celestial”. Posso citar muitos outros exemplos, Deus falou com Noé, e
ele entendeu o que o Senhor estava dizendo (Genesis 8:15) Da mesma forma falou
com Isaias e a linguagem era inteligível e vernacular (Isaias 9:8) O mesmo se
deu com Samuel (I Samuel 3:11) Todos os que crêem que existe tal idioma
celestial, precisam apelar unicamente para a experiência e nada mais. E nesse caso, o “sola Scritptura” cai por
terra, e a bíblia não mais passa a ser autoridade, a suficiência das escrituras
passa a ser minada na sua base, quando a experiência determina se algo é ou não
correto.
Olhamos para o contexto, em I Coríntios
14:21, Paulo associa as línguas desse capitulo, com a profecia de Isaias 29:11
e 12. E trata-se de línguas estrangeiras. Isso harmoniza-se perfeitamente com a
fenômeno das línguas em Atos 2:8 “Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa
própria língua em que fomos nascidos?” é claro que nesse texto, os que
receberam o dom, falavam em estrangeiras
para anunciar a todo mundo a glória do evangelho. Nesse estagio de nossa compreensão
entendemos que estavam anunciando o evangelho, o mistério que esteve oculto
desde todos os séculos e todas as gerações,
que agora foi manifesto aos seus santos”(Colossenses 1:26). Assim lemos
em um contexto imediato que Paulo fala desse mistério aos coríntios: “Mas
falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos
para nossa glória”(I Coríntios 2:7) Essa é a revelação que veio desde o
pentecostes de forma ampla para fundamentar as bases da fé cristã e sua
proclamação universal (I Coríntios 2:10). Isso está de acordo com I Coríntios
14:5, o que fala a língua precisa de um interprete para que a igreja receba
edificação. No grego, a palavra traduzida por interprete é “diermenuó”, segundo
o léxico de Strong e também de Thayer, significa desdobrar o que foi dito,
explicar, traduzir algo de uma língua nativa, uma explicação completa ou uma
tradução do que foi falado. É muito simples compreendermos as Escrituras,
quando ela interpreta a si mesma. “E, por mim para que seja dada, no abrir da
minha boca, a palavra com confiança, para fazer notório o mistério do
evangelho”(Efésios 6:19)
Em segundo lugar, entendemos que Paulo está
fazendo sérias repreensões e corrigindo aos Corintos sobre esse assunto. Precisamos ser adultos no entendimento (I Coríntios
14:20) “Assim também vós, se com a língua não pronunciardes palavras bem
inteligíveis, como se entenderá o que se diz? Porque estareis como se falando
ao ar”(I Coríntios 14:9)tendo em vista que o propósito de Deus é organizado e
não confuso, tudo o que não tem um propósito em si, que não promove a centralização
da mensagem da cruz, não tem apoio bíblico. O “ide e pregai o evangelho” que Cristo ordenou, não poderia
ser cumprido, se não existisse o dom de línguas. Essa proclamação aos gentios
começou em atos 2, e isso vimos de forma como Deus é perfeito em cumprir os
seus propósitos em capacitar muitos cristãos para proclamar as boas novas, o
mistério que estava oculto, mas que agora deve ser revelado a todos os gentios
e em todas as nações.
CLAVIO JUVENAL JACINTO
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