Em Isaías 45:7 lemos “Eu formo a luz e crio as trevas;eu
faço a paz e crio o mal;eu, o Senhor faço todas as coisas.” O contexto dessa
passagem é atribuído a Deus que usa um monarca chamado Ciro, para propósitos
divinos. Mas o texto parece trazer uma resposta final a questão da teodiceia.
A disputa filosófica sobre a compatibilidade da existência
de um Deus bom e onipotente, já dura séculos. Creio que uma das mentes mais
brilhantes a dar uma profundidade sobre o assunto tenha sido Agostinho, mas
desde então o problema tem se perpetuado. Alguns teólogos parecem acreditar
terem resolvidos o problema, como Gordon Clark em seu livro “Deus e o mal, um
problema resolvido” (1).
Alguns entendem que Isaías 45:7 dá uma resposta simples a
toda essa polêmica metafísica. Deus é o autor do mal.
Será? Se Deus é o autor do mal, então Ele é pecador e
responsável por todas as calamidades do mundo. Françóis Turrentin, afirma: “O
mal se origina de algum erro, mas o bem exige uma causa” (2) Mas Deus não
cometeu erros, então ele não pode ser o autor do mal. Ainda que criasse o homem
e colocasse nesse a responsabilidade moral de escolher o bem ou o mal, essa
escolha parte da responsabilidade humana. Deus não tem parte nessa escolha.
Alvin Platinga explica: "O Fato de algumas criaturas livres errarem, contudo,
não depõem contra a onipotência de Deus nem contra a sua bondade; pois ele só
poderia ter impedido a ocorrência do mal moral removendo a possibilidade do bem
moral” (3)
A questão do sofrimento e do mal no mundo ocupa um lugar de
disputas porque há cosmovisões diferentes. Um
teólogo cristão enxerga a vida de uma maneira diferente de um filosofo
ateu. Aqui não é uma questão do primeiro usar a fé e o outro a razão, esclareço
que um cristão usa a razão iluminada pela fé. Isso dá um resultado diferente,
chega-se a conclusões diferentes. Alguns perguntam: Porque Deus sendo
onipotente e bondoso, não acaba com o sofrimento no mundo? Na perspectiva
cristã, isso acabará de alguma forma. Mas o mal nunca se acabará, será isolado
de forma definitiva dentro da eternidade. Deus fará algo perfeito dentro desse
assunto que foge da questão em pauta.
Não entendemos o sofrimento e o mal no mundo, e porque Deus
permite sendo ele bom. Somo finitos, nossa visão terrena ainda é muito
limitada, não alcançam as dimensões dos propósitos divinos.
A dor e o sofrimento, a maldade certamente foi permitida
porque isso vai colocar o homem e toda a criação num patamar de experiências
eternas que de outra forma jamais poderíamos obter. Creio nisso, e tenho encontrado
nessa resposta, consolo para meus anseios profundos. Deus não decepcionará ninguém. Haverá um dia de acertos e
esclarecimentos, e isso não é agora.
Mas a dor, a maldade, todas essas coisas que vimos hoje, que
sentimos, e que somos testemunhas, depõe a favor de um propósito. Deus permitiu o mal, porque isso vai elevar a
alma humana para patamares de experiências que de outra forma ninguém jamais
teria. Por incrível que pareça, pessoas que saíram das mais escuras
experiências de malignidade, viveram de modo altruísta para ajudar o próximo.
Há níveis de transformação interior na dor, e o sofrimento abre as portas do
heroísmo e da dignidade pessoal. Assim na sua experiência em Auschwitz, Viktor
Frankl falou: “ Quando a circunstância é boa, devemos desfruta-la, quando não é
favorável, devemos transforma-la, e quando não ser transformada, devemos
transformar a nos mesmos.”. Assim de uma
profunda malignidade brota o amor pelo próximo, como aconteceu com Maximiliano
Kolbe que morreu em lugar de um judeu condenado, para salvar a vida dele. Sem a
existência do mal, não haveria como atribuir experiências de heroísmo e
dignidade entre os humanos. Por esse caminho tento compreender porque Deus
permitiu o mal, tendo ele o poder de evita-lo.
De certa forma concordo com Richard Graf quando diz que “A
dor não é uma realidade sombria. Um cristão que viva a sua fé em pleno
seguimento de Cristo até o fim, esse é o homem mais feliz do mundo. Porque a
dor é a outra face do amor, e o amor é alegre” (4)
De certa forma, tudo isso é cercado de enigmas, o sofrimento
é um código difícil de decifrar, mas com certeza, não houve um erro na criação.
Não houve uma falha, existe sim um propósito. Acho que a teodicéia ganha luz
quando cremo que por essa via, as coisas
ganham uma compreensão mais profunda.
Mas voltemos a questão primeira. Mesmo que o mal tenha um
propósito, ele só existe por permissão de Deus.
A bondade absoluta de Deus e a sua perfeição majestosa não permite que
ele seja o autor do mal. Então como explicar Isaías 45:7?
Deus é autor do mundo pré adamico, o mundo que estava em
caos, em um caos torrencial. Um mundo violento, caótico, primitivo e
furioso. O homem jamais poderia viver em
um mundo assim. Então o lugar primitivo do homem era um jardim. Deus colocou
ordem nesse mundo caótico e ao homem concedeu-lhe um paraíso. Nesse caso ele é
o autor da calamidade da terra caótica. A expulsão do homem, o conduziu ao mundo que voltou a ter vestígios do mundo caótico primitivos. Deus
cria o juízo sobre as nações e a disciplina aos seus filhos. Assim entendemos
que Isaías 45:7 fala que Deus é a autor de calamidades e disciplinas rígidas e
de juízo sobre povos e nações. Mas
jamais o texto diz que Deus é o criador do mal moral. Algum traduções das escrituras, como a versão
judaica de Davi Stern traduz o texto de Isaías colocando “Desgraça” ao invés de
mal (5) Assim também traduziu o texto, A Bíblia de Jerusalém.
(1)Dios Y El Mal, El
Problema Resuelto de Gordon Clark está disponível no website
Cheungyclarkenespanol.wordexpress.com
(2) François Turrentin Compendio de Teologia Apologética
Tomo I Pag 52 Editora Cultura Cristã
(3) Alvin Platinga- Deus a Liberdade e o Mal Pag 47 Edições
Vida Nova
(4) Richard Graf O
Cristão e a Dor Pag 6 Editora Quadrante
(5) A Biblia Judaica Davi Stern Pag 559 Editora Vida
Autor : Clavio J. Jacinto
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