Peter Laranja era um daqueles devotos piedosos que
encontramos por ai, um doutor sabe tudo, nutrindo uma espécie de orgulho
demasiadamente doentio. Era o super espiritual, via erros em todos e pecado em
tudo. Andava condoendo-se da maldade do mundo, e dizia consigo mesmo em tom de
exaltação dantesca que jamais poderia cometer tamanhas baixezas e vilezas como
via nas camadas mais frouxas dos piedosos do mundo. O que poderia ser desses
homens sem ele,
considerava-se o fanal mais potente da sociedade, vivia sob
a cobertura de Zé Cego, que lhe dava muitos conselhos e apoiava sua missão
espiritual. Carregava uma lista de “coisas erradas” que um piedoso jamais
poderia cometer. Não toque, não proves etc. Havia um extremo zelo por opiniões
pré concebidas da sua nobre seita. Um ideal elevado de ser melhor do os outros.
Nem mesmo as estrelas eram puras aos seus olhos, o azul
celeste não era digno de contemplar suas “virtudes” porque era manchada com o
manto da noite escura. A lua não era digna de iluminar seus passos, pois ela
mesma parecia ter um lado oculto que nunca revelava aos pobres mortais.
Peter Laranja construiu uma refinada mascara para cobrir seu
coração. Era isso que via em seus nobres companheiros de prisão religiosa,
exemplos frutíferos de uma espiritualidade doente. Mas aos espelhos da própria
alma, eram os seres mais elevados do sistema.
Um dia Peter Laranja estava a mesa de um de seus concidadãos
da esfera da amizade, comia pão e bebia de um bom refresco de limão, sorria com
toda a força para tentar mostrar seu grande amor pelo próximo. Após a longa
conversa e o desjejum saboroso, Peter Laranja vai pra casa e no outro dia
conversa com seus concidadãos da filosofia religiosa, a confraria dos seres
mais destilados do alambique da religião sem conteúdo interior, pra criticar e
murmurar com a mais horrenda e nebulosa dureza, o semelhante que outrora tinha
lhe dado uma refeição tão nobre.
Peter Laranja seguia suas caminhadas pelas veredas de
piedade faraônica. Um dia encontrou um pescador com um aquário, havia ali
tantos peixes coloridos, que aquele bom pescador cuidava, com requintes de
carinho, colocando a ração diária aos peixinhos. Peter Laranja ficou enamorado
da cena, intrigante por um pescador simples, da roça, cuidar com zelo os
peixinhos que foram tirados do oceano dos perdidos, e elogiando num tom certo
de que as palavras suaves cativam os ouvidos incautos, perguntou se não poderia
colocar dentro do aquário um peixinho de estimação que ele tanto apreciava e
que por mero segredo, estava vivendo em um balde, na sua casa. O pescador,
inocente, confiante nas palavras suaves de um pseudo piedoso, que por dedução
era dono de ar rarefeito no espaço mais sutil do orgulho religioso, permitiu
que Peter piedoso colocasse seu estranho peixe de balde pra conviver com os
outros peixinhos dentro do aquário. Depois de alguns dias, o inocente pescador,
como de costume, vai apreciar a cena de seus lindos
peixinhos flutuarem nas águas límpidas do seu aquário e nota
que o peixe do balde, do Peter Laranja estava com a barriga cheia e os outros
peixinhos coloridos haviam desaparecido.
Amargurado o pescador corre em protesto contra Peter Laranja
que numa risada sonora e sinistra disse que não sabia que seu peixe iria
devorar os peixinhos alheios, e que conversou com o dito peixe guloso e
devorador, que respeitasse o ambiente alheio da sua nova morada. E em tom
soberbo, tomou o aquário do pescador e retirou seu peixe guloso, e num ar
confiante seguiu pra encontrar a sua turma e contar sobre o milagre maravilhoso
de ter visto um peixe de balde, na sádica missãopiedosa de engolir meia dúzias
de peixes de igual tamanho;
Peter Laranja argumentou com seus devotos que aqueles peixes
de aquário eram muito vaidosos, por serem tão coloridos e que o pescador era um
cego que idolatrava seus peixinhos, por isso teve a nobre missão de
disfarçar-se de homem bom, para ganhar a confiança do pescador para inserir o
peixe de balde no aquário pra devorar os peixinhos coloridos e salvar a alma
dos peixinhos da vaidade e a salvar a alma do pecador da idolatria.
Moral da história: Todo o hipócrita tece uma mascara de boas
intenções, para argumentar com base na sua postura falsa, que o resultado de
suas astucias não foram intencionais, mas a providencia conseqüente de suas
obras de santidade.
Clavio J. Jacinto
Nenhum comentário:
Postar um comentário