Durante anos fui ensinado de modo
completamente hipócrita com relação a dor e as aflições. Há um mundo de faz de conta na vida de muitos
cristãos. Na verdade muita gente que professa a fé cristã é completamente
hedonista e humanista por causa da superficialidade como é encarada o sofrimento.
Tudo aquilo que aflige o homem parece vir do diabo, defendem esses
superficiais. O resultado foi uma geração de cristãos que não compreendem o
desígnio da dor e da aflição, não encontram nenhum valor no sofrimento, não
conseguem produzir perolas em meio as intensas dores. O resultado é avassalador,
para não dizer um escândalo.
Eu li o livro de Randy Paush “A
lição Final”. Randy contraiu câncer, lutou contra a doença, mas de forma
simples, encarou os fatos e viveu seus últimos momentos com uma sabedoria muito
intensa. Paush morreu em 2008, seu legado foi uma ultima aula que deixou na
internet e atraiu a atenção de muita gente. O livro “A Lição Final” eu li em
paralelo com o livro de Eclesiastes. Uma experiência incomum. Acho interessante
como uma pessoa pode encarar os fatos da vida de forma real, sem fantasias. E a
bíblia não nos leva para um mundo de fantasias quando o assunto é sofrimento.
Não importa de que modo vem a aflição, a dor e o sofrimento, ou como se
experimenta, física ou emocional, na verdade ela é um fato real na vida de qualquer
cristão, precisamos entender isso.
Mas, todavia, a cristandade tem
polido a mensagem “não sofra mais” ou com a promessa “Venha a Cristo e todos os
seus problemas serão resolvidos”. Uma geração avessa a dor foi desenvolvida a
partir da mensagem fantasiosa de que o céu torna-se a realidade imediata de
quem serve a Cristo nesse mundo. O resultado
segue em linhas opostas, gente que se decepciona e se afasta da fé
cristã e outros que se auto-enganam e continuam em suas fantasias.
Há um livreto muito bom, escrito
por H. L. Roush: A Benção da traição” o autor discorre sobre a sua experiência
de amargura por ter sido traído por um amigo que ele confiava e fazia parte do
circulo de comunhão cristã. Não estamos livres, nenhum cristão está livre das
duras aflições da vida. Seja em suas múltiplas formas,a dor chega, de uma
maneira ou de outra, mas cedo ou mais tarde, e ela vem dentro do propósito de
Deus, pois na vida de um verdadeiro cristão,
ela sempre esta dentro dos domínios soberano de Deus. Não somos chamados
para questionar, mas para suportar. Paulo
ensina que devemos ser pacientes na tribulação (Romanos 12:12) a palavra grega
aqui em romanos é “Thlipsei” Jesus usa essa mesma palavra em João 16:33 quando
afirmou : “No mundo tereis aflições” e significa angustia, tribulação, aflição
etc. Cristo nunca prometeu aos seus seguidores que eles estariam isento dessas
coisas. A glória do evangelho foi lapidada na aflição da cruz e brilha na
piedade dos que suportam a dor quando passam por esse mundo caído.
Alguns anos atrás, uma irmã da
nossa comunhão cristã contraiu câncer, depois de muito lutar contra a doença,
ela partiu. Sei o quanto é angustiante tudo isso. É um mistério, o sofrimento
humano. Mas estamos no estagio em que a natureza geme com dores de parto aguardando
a redenção. A cruz é de alguma forma, parte da vida humana, de todos, inclusive
dos redimidos. Mas sempre que alguém fica doente, como foi o caso dessa irmã,
há sempre a perspectiva da cura. Quase sempre tudo gira em torno disso. Por causa do misticismo e das experiências
extra-biblicas, surgiram falsas profecias e palavras que eram opostas as
evidencias. Até que se entenda os desígnios de Deus, tudo vai ficar encerrado
na hipótese emocionalista. Raramente
alguém ora “seja feita a tua vontade” nas horas mais difíceis da vida. Quando
vem a tribulação oramos para que Deus faça a nossa vontade, porque somos
ensinados que a tribulação é uma desordem da vida espiritual, quando na verdade
pode ser um chamado para colocar a nossa vida em ordem. Assim com a morte
daquela irmã evidenciando que a emoção e o misticismo não pode tomar a ordem
das coisas nem ter o controle absoluto da tribulação. A dor da perda torna-se
confusa, o evangelho desacreditado e os propósitos de Deus obscurecidos.
Assim como é certo que o mundo
jaz no maligno, de alguma forma, a condição humana jaz no sofrimento. Paulo diz
que o nosso homem interior se corrompe, mas nosso homem interior deve ser
renovado dia após dias.
J. W. Follette escreveu um artigo
que todo cristão deveria ler: “A Tribulação, uma serva” Follette com uma
piedade e um discernimento profundo, discorre sobre esse assunto, a aflição,
com uma cosmovisão muito bem estruturada nas escrituras. O cristão deve tomar a
tribulação como um escravo, pelo qual deve obedecer aos propósitos de Deus.
Para Follette, Deus permite a tribulação na vida do cristão, para o
aperfeiçoamento do caráter, aliás no inicio do artigo, o autor já explica que o
Senhor permite o problema e a tragédia para testar a fé e o caráter de um
cristão. Há um propósito na escola da espiritualidade cristã. O sofrimento foi
uma serva na vida de missionários, teólogos, pastores, e é certo afirmar que o
fio escarlate da redenção liga todos os livros da bíblia, também é correto
afirmar que a dor também é uma luz que está acesa durante todo o trajeto da
história da igreja.
Não sejamos infantis! Olhem para
os primeiros séculos da igreja, como os irmãos sofreram as duras perseguições e
morriam esfolados, afogados e queimados, devorados pelos leões e expulsos de
seus lares. A glória da coroa de um
crente corresponde a dor que suportou em Cristo nesse mundo. Porém, hoje, uma
multidão vai para as igrejas em busca de respostas pares seus problemas sejam
ele financeiros, matrimoniais ou sentimentais. Não que de alguma forma isso
seja errado, acredito que Deu abençoa seus filhos, e nem mesmo posso omitir que
a benção esteja escondida numa dura prova. Porém o centro da mensagem cristã
não é a resolução dos problemas existenciais do homem, mas sim do maior de
todos os problemas, e esse de caráter eterno: o perdão de seus pecados.
Seguir os passos de Cristo é
trilhar as veredas das aflições para chegar na glória. O caminho da vida cristã
é cercado com as farpas da tribulação, com os espinhos das aflições, mas nem
por isso, as flores deixarão de desabrochar.
A escola da dor é mais eficiente do que os prazeres do mundo
(Eclesiastes 7:3). Porem queremos evitar-las, porque sofrer, na mentalidade de
muitos teólogos é evidencia de falta de fé e evidencia de pecados. Ser pobre é
uma maldição e toda doença é diabólica. Tudo isso é errado, porque doenças,
dores, morte, tudo isso faz parte do estagio atual.
A dor é parte constante da vida humana. Ela é
um mecanismo deformado pelo pecado. Vivemos sofremos e morremos, isso ocorre
com salvos e não salvos. A vida segue
ciclos como na natureza, amanhecer e madrugada, dia de sol e nublado,
primavera, outono, verão e inverno. O livro de Eclesiastes e o livro de Jó
exploram isso de forma bem clara. Jó é o justo que sofre as duras provações da
vida. O Livro de Jó é um oceano de dor e é um homem santo que dá um mergulho
lá. No salmo 73 Asafe questiona o fato do ímpio prospera e ele passar por
apertos. José passa por duras aflições desde a inveja de seus irmãos até permanecer
no calabouço de uma prisão fria por causa de uma falsa acusação contra ele.
Paulo afirma que a nossa leve e momentânea tribulação produz um peso eterno de
glória mui excelente. (II Coríntios 4:17) Tia ensina que devemos nos alegrar
quando passarmos pelas tentações (Tiago
) devemos entender que há propósito divino na dor e nos problemas que
nos afligem. Mas essa geração não quer passar pela universidade do
sofrimento. Embora J. W. Follette com
muita sabedoria ensinasse que a tribulação é uma serva, a maioria dos cristãos
tornam-se servas da tribulação. A teologia enferma ensinou que um cristão não
pode passar por apuros, não pode passar por problemas. Durante anos ouvi
pessoas “evangelizarem os perdidos” com o jargão “Jesus te cura, resolve teus
problemas” ou “venha para Cristo e todos teus problemas serão resolvidos”. É verdade
que na vida cristã, tudo o que causa dano e provem do inimigo precisa ser
tratado por Deus, porém aquilo que Deus permite tem um propósito. O processo
que ele usou para colocar os santos num patamar de honra sempre foi pelo
caminho do sofrimento.
Claro, não entendemos porque tantas coisas
fogem da nossa compreensão. Somos limitados, e por isso, a fé e a confiança na
santidade divina devem ser sempre lâmpadas que iluminam nosso caminho espiritual.
Porém entendemos que todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a
Deus (Romanos 8:28). As paginas do Novo Testamento mostram a vida como ela é.
João Batista é decapitado, Tiago foi transpassado pela espada, Antipas foi
morto por ser testemunha de Cristo, Paulo sofreu muitos açoites, naufrágios um terrível espinho na carne. Tudo indica que
Maria perdeu seu esposo José, muito cedo, Cristo sofreu todas as dores na cruz
do Calvário, almas clamam diante do Trono de Deus porque foram decapitadas por
causa da fé em Jesus Cristo. Essa é a vida cristã. Nesse estagio da vida, do nascimento a morte,
temos a experiência de vida de um mundo caído. Quando nascemos de novo, pela
regeneração, o velho homem fica, até a morte, a redenção começa pelo espírito do
homem, e segue outros processos. Nosso corpo ainda vai ser transformado, assim
como também surgirão novos céus e nova terra. Há um descortinar nas paginas do
Novo Testamento, e Cristo ensina que no mundo teremos aflições, mas que Deus
enxugará todas as lagrimas de nossos olhos, pois lá no final das Escrituras
inspiradas, encontramos essa promessa maravilhosa: “ E Deus limpará de seus
olhos, toda a lagrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem
dor: Porque as primeiras coisas são passadas”(Apocalipse 21:4). Hoje estamos
vivendo essas “primeiras coisas”. Estamos dentro dessa esfera existencial. A criação geme, o mundo foi afetado pela maldição
do pecado, estamos nessa condição até a morte.
Paulo sempre pregou sobre o regozijo no Senhor (Filipenses 4:4) mesmo
tendo essa experiência de alegria, Paulo passou por duras aflições, e ele mesmo
declarou “Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo o desejo de partir e estar
com Cristo, porque isto é ainda muito melhor” (Filipenses 1:23). Essa era a
perspectiva de Paulo. Ele tinha uma definição correta e real das coisas. Era um fato! A vida cristã era uma primavera,
mas estava afetada pelas tempestades do século presente, por isso ele declarava
que o viver era Cristo e o morrer era ganho (Filipenses 1:21). Havia no santo
apostolo uma percepção real da vida regenerada num corpo corruptível. Paulo escreveu sobre o assunto com detalhes
em I Coríntios 15. A comunhão com Deus e a vida regenerada nos concede recolher
a doçura do maná celeste num deserto caustico que é apenas uma passagem para a
terra prometida. A jornada, a peregrinação não é uma viagem muito confortável,
mas a chegada, as promessas da vida vindoura serão de tal modo tão cheia de
glórias, que o nosso padecimento momentâneo nesse mundo será apenas um fogo que
purifica mais o coração, para que estejamos preparados para as maravilhas que
nossos olhos contemplarão. Isso significa padecer os restos das aflições de
Cristo, para desfrutar das doçuras eternas com Ele. Hoje passamos pelas noites
escuras da aflição, a madrugada da dor parece não passar, as nuvens
tempestuosas das tribulações escondem a luz do meio dia da vida, mas aos santos
é dada essa promessa: “E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de lâmpadas
nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os ilumina; e reinarão para todo o sempre”(Apocalipse
22:4) Durante a segunda guerra mundial,
um judeu chamado de Viktor Frankl sobreviveu as duras provações dos campos de extermínios nazistas. Sua história contada no livro “Um Sentido
para a Vida” é extraordinária. As experiências narradas no livro são surpreendentes,
porque elas não partiram de alguém que
tinha uma cosmovisão cristã. Frankl conta como muitas pessoas conseguem sair
dos mais extremos sofrimentos e conseguem suportar as mais terríveis provas sob
condição de dor e angustia. Na dimensão da fé cristã, as aflições devem agir de modo peculiar, pois
que temos o fiel Consolador e a bendita esperança de que o sol da justiça
brilhará quando a madrugada escura das aflições passar. Devemos sim, aceitar
aquilo que é a vontade de Deus, e lutar contra tudo o que não é a sua vontade.
Sabemos que Cristo não tardará (Hebreus 10:37) e quando Ele vir, então as
cadeias do sofrimento serão rompidas, os grilhões das aflições do mundo
presente serão despedaçados. “Mas a nossa cidade está nos céus, de onde esperamos
também o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo
abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de
sujeitar também a si todas as coisas” (Filipenses 3:20 e 21)
O Sofrer é um doce perfume na alma consagrada a Cristo
C. J. Jacinto
Clavio J. Jacinto
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